terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Sorriso amarelo


Você ri.
E nem sabe realmente o porquê.
Os músculos certos se movimentam e você ri.
Do homem que anda apressado ao celular;
Da garota que passeia com um vira-lata qualquer.
Você ri dos outros.
E chora por si.

Por Jenifer Lima

Passarinho, passarão, passado


Ontem eu gargalhei. Essa não é uma coisa pequena, é difícil me fazer gargalhar, mas ontem eu gargalhei até a barriga doer e o ar faltar. Em um segundo eu estava com o cérebro nublado pela piada engraçada gargalhando sem parar, no outro, mil lembranças perpassavam rapidamente por esse cérebro traidor e eu me dei conta de que eu costumava gargalhar com mais frequência, no frio e sombrio antigamente. Era uma boa rotina: semana cansativa, dor nos braços e nas costas, olheiras mal disfarçadas, e então fim de semana cheio, gente velha, piada velha, risada nova, força aos músculos e vivacidade ao rosa das bochechas. Era uma boa rotina.
Ontem o contexto era outro, gente nova, piada nova, risada velha, o mesmo sorriso de quem só quer isso da vida, só quer rotinas boas, não importando se são velhas ou novas, mas que não quer ser o espelho do passado, não quer viver citando a vida que tinha, a piada que não faz mais rir.
A vida tem coisas pequenas e grandiosas, mas as bem boas, as que fazem a gente gargalhar de verdade são as coisas medianas, o mais ou menos do dia a dia, porque essas você sabe que não são inho nem ão, essas são as que cabem na rotina sem romper ou deformar. As coisas medianas são as que ficam.

Por Jenifer Lima

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Meiga

Tudo estava indo tão bem, apesar de você me irritar majestosa e diariamente, e ainda assim - ou talvez por ser assim - tudo estava indo tão bem. Mas então você me vem com seu sentimentalismo que me parece tão presunçoso e tão experiente, você me vem com aquelas três palavras que faria menininhas sorrirem, mas que, para mim, quebram todo o clima. E depois de dizer que me ama, ainda completa: "porque você é assim, toda meiga e bonita"
Eu não sou meiga não, tá? Sou incompleta, cheia de mínimas partes que ao se juntarem não dão um inteiro. Já houve vários que me chamaram de meiga e levaram uma parte e a cada vez que eu tento unir o que sobra me esmiuço ainda mais.
Por que no fim das contas, eu sou meu próprio martelo.
Eu sou o carteiro que distribui suas próprias cartas esperando que alguém escreva nelas seu endereço somente para que pertençam a algum lugar. 
Eu só quero um selo, um remetente, um alguém que me leia e me decifre, eu só não quero ser rasgada de novo, ser distribuída em mais mil envelopes cheirando a mofo.
Eu quero um cheiro diferente, aroma de completo. Porque pra mim, amor só pode ser se for inteiro, só pode ser se simplesmente for.
Nem meiga, nem carteiro, nem carta.
Sou fração de elogio, fração de metáfora, fração de ser.

Por Jenifer Lima

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Cada letra, um som

O pior de todos os instrumentos
O melhor de todas as vozes
O menor tempo de nota
O compasso mais extenso.
Ansiedade é pensar em um tempo em que ela
Será toda louvor, toda sorrisos
Perfeitamente eterna.
Enquanto espero aqui
A alegria é traduzida
A tristeza demostrada
Ambas sentidas
Em um só momento, por uma só canção
Bem-aventurado é aquele
Que da música faz sua expressão

Carolina Prado

- Falar sobre aquilo que sou apaixonada é fácil, o texto flui. Surgiu para ajudar a uma colega que precisava de um poema para uma tarefa escolar, não ajudou, ela disse que a professora não acreditaria que foi ela quem fez, rsrs. Mas a escrita é assim mesmo, cada um tem o seu próprio toque, cada um tem a sua letra. -

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Fio de cabelo

- Só liguei pra dizer que você esqueceu um fio de cabelo solto no meu sofá, você pode passar aqui depois do trabalho ou, se preferir, a gente marca um dia no shopping e eu te entrego.
Não me parece uma boa desculpa e não é, mas eu reviro a casa e não encontro nada além de lembranças, ar perfumado e aquela droga de fio de cabelo que, se não fosse tão preto, poderia ser meu.
E dizer que estou com as mãos coçando de vontade de te ligar é pouco demais, assim como minha coragem de dizer logo de uma vez e a plenos pulmões que estou asfixiada pela saudade.
Saudade de qualquer coisa sua que não seja parecida com o grito da porta batendo e de suas coisas sendo levadas; qualquer coisa que não seja sua falta de sorriso, sua falta de carinho, sua falta de não me faltar mais.
Porque antes não me faltava nada disso, não me faltava amor. Porque o amor já esteve aqui do lado, com o braço estendido eu conseguia tocá-lo e ele era tão meu que não me deixava outra escolha a não ser ser dele também. E eu não queria outra escolha.
Eu quis ser sua quando você me disse que não sabia flertar do jeito mais encantador que existe, e eu quis ser sua quando você chorou escondido naquele filme bobo, quis ainda mais quando me fez cócegas sem saber que eu odeio, quis além das minhas forças quando você me disse que não podia ser meu por inteiro.
E eu ainda quero ser sua ao pegar esse fio de cabelo e jogá-lo pela janela.

Por Jenifer Lima

- "Sobre o que eu vou escrever se você for melhor que esperar por você?"  Pois é, uso uma das frases do texto que mais amo da Tati Maravilhosa Bernardi para dizer que desde que o amor chegou na minha vida eu simplesmente escrevo porcamente, então fico sem coragem de postar algo aqui! E se a falta de criatividade é culpa do amor, a falta de tempo é culpa da USP. Então, após meses, volto com um texto xoxo e que eu gostaria de ter trabalhado de forma mais rigorosa. -

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Fim carnavalesco

Eu só me pergunto em que loja comprou essa máscara, essa fantasia barata de frieza, esses saltos tão altos como seu novo ego.
Sua atual coreografia combina muito bem com o samba enredo do seu riso.
E na avenida da minha vida, o chão já está gasto de você, que vem, olha, ri de escárnio e desfila se sentindo a rainha dessa bateria.
A bateria que eu não toco.
A bateria que eu já toquei por você.
Meu coração era um repique perfeito e encaixava no seu compasso, mas você veio, sorriu, cantou.
E quando a nota seria inevitavelmente dez, você mudou de performance, destruiu meu romance alegórico e festejou com a outra escola campeã.
Só me restou a quarta-feira de cinzas, cinza como este amor.


Por Jenifer Lima


- Bom carnavaaaaal, galera! Tudo bem, o texto não é dos mais felizes, mas eu sou Jenifer Lima, e embora esteja super alto-astral, o texto foi mais uma vez triste! Mas aproveitem o feriado, e por favor, não engravidem/voltem grávidas de ninguém -

Matando aos poucos

Tudo bem, eu me rendo
Eu disse, está tudo bem
Eu sei, nunca tentei ir contra
Eu nunca nem considerei isso
Mas você sabe que a culpa é sua!
Você que está me ensinando a ser assim
Coisa mais ridícula
Mole, flexível demais
Você acha que é fácil?
Nunca foi, só com você
E agora ele está lá, gritando e eu não escuto
Você conseguiu esconder o som, mas ainda o vejo
Desesperado, se debatendo, esgoelando...
Eu convivi, estive com ele por anos
E você pensa que pode chegar assim
Do nada, querendo sumir com ele
Está tudo bem, eu me rendo
Como eu disse, está tudo bem
Agora, se você me permitir
Entre toda essa imposição
Tenho um só pedido, claro, se você permitir:
Continue me ajudando a ignorá-lo
Sem jamais o querer de volta
Até que, exausto, o meu orgulho morra.


Por Carolina Prado

- Comecei fazendo algo que clareie mais a minha intenção, mas resolvi deixar o texto mais assassino. É difícil não ter orgulho, mas quando se começa um relacionamento, ele vai sendo silenciado, ignorado, até não existir mais. É uma necessidade, não só uma escolha, mas também é um processo, geralmente inesperado -

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Olhos verdes

- Oi, vô
- Oi, minha fia
- Benção, vô
- Deus te abençõe
Era sempre a mesma coisa, e era a mesmice mais linda do mundo.
Agora é sempre a mesma dor, e é a mesmice mais pesada do mundo.
- Vô, seus olhos verdes são tão lindos
- São verdes não, minha fia, são maduros mesmo
E eram mesmo. Maduros e lindos.
Os olhos verdes que eu queria pra mim foram escurecendo como se pressentissem o fim, mas quando ele chegou se reacenderam. Eu não os vi assim, como as duas esmeraldas lindas que deviam ser quando jovem. Eu estava a 2.600 Km de distância do caixão que começava a ser coberto pela terra impassível. Mas eu sabia que meu avô se mostraria forte até mesmo na hora de ir.
Um ano sem meus olhos verdes e o luto não envelheceu em nada.
Sinto saudades, vô.



Por Jenifer Lima




- até esse momento eu me orgulhava em ser sempre muito impessoal nos meus textos. Nunca ter postado algo escrito diretamente sobre mim faz desse momento algo a mais pra mim. Dedico esse texto ao meu avô, e que a morte não se sinta vitoriosa, pois a lembrança daqueles olhos verdes ainda me faz sorrir -

Tem ninguém à porta...

- Faz assim, mãe, diz pra ele que eu não me importo com ele. Não! Melhor dizer que eu nunca pensei nele, nunca gostei do sorriso contido, nem da mania incoveniente de proteção. Ou diz que eu era muito pra ele, que ele não me preenchia, que era muito normalzinho. Usa diminutivos, mãe, pra ele se sentir inferior! Muito normalzinho, chatinho, grudentinho... Fala que ele não me satisfazia quando dizia que me amava. Mãe, por favor, diz que eu não aceito quaisquer desculpas, diz também pra ele parar de te chamar de sogra, deixar de fantasiar com uma casa cheia de crianças porque eu nunca considerei essa opção. Deixa bem explicado que os olhos e as olheiras dele não querem dizer nada e repete várias vezes que eu estou bem! Numa felicidade totalmente incomparável com quando ele me chamava de linda, ou bagunçava os cabelos da própria nuca quando queria se desculpar. Diz tudo isso, mãe, por favor! Mente pra mim! Faz ele acreditar que não significou nada! Talvez ele se sinta mais culpado se for assim...
- Filha, não foi ele que tocou a campainha...
- Ah...


Por Jenifer Lima


- texto feito num rompante ontem à noite... Quem nunca fingiu que tava muito bem quando estava verdadeiramente ao cacos que atire a primeira pedra -

Completo

Totalmente lindo, mesmo tendo um nariz meio desproporcional;
É antipático, mas quando sorri, o faz com maestria;
É insuportavelmente sincero;
Dono dos olhos mais hipnotizantes, da barba mais mal feita, da gargalhada mais gostosa, do humor mais instável.
Ele é imperfeitamente completo.
Completamente inexistente.

- tá, eu sei que o final tá esbanjando melancolia, mas, posteriormente, vou postar uma versão mais alegre desse mesmo texto -

Colecionando dramas

Tem sido difícil me desfazer da minha coleção. A cada vez que eu abro o pote e tiro de lá o que antes era uma preciosidade, eu sinto farpas cortando meus dedos.
É óbvio que não há pote, muito menos farpas.
Essa sou só eu dramatizando minha vida e lembrando-me de que você adorava quando eu fingia que qualquer motivo podia virar drama e lágrimas na hora de escrever; e de que você adorava qando eu escrevia assim, porque eu ficava com o olhar perdido e ficava linda, você dizia.
E eu duvidava.
E eu duvido.
Duvido que você tenha realmente deixado de me amar tão repentinamente.
Duvido que não pense mais no meu olhar perdido, quase sempre encontrando uma maneira de não fazer um texto sobre você para não me sentir boba.
Quer saber, esse texto é sobre você e eu não me sinto nada boba, pois a bobeira sumiu quando você deixou de me amar e disse que eu teria que me contentar com esse pote de lembranças.
Você só esqueceu de me avisar sobre as farpas.


Por Jenifer Lima


- tá, eu não ia postar esse texto, mas me pareceu bem sofrido, então, coitado, merece alguma atenção rs -