Ontem
eu gargalhei. Essa não é uma coisa pequena, é difícil me fazer gargalhar, mas
ontem eu gargalhei até a barriga doer e o ar faltar. Em um segundo eu estava
com o cérebro nublado pela piada engraçada gargalhando sem parar, no outro, mil
lembranças perpassavam rapidamente por esse cérebro traidor e eu me dei conta
de que eu costumava gargalhar com mais frequência, no frio e sombrio
antigamente. Era uma boa rotina: semana cansativa, dor nos braços e nas costas,
olheiras mal disfarçadas, e então fim de semana cheio, gente velha, piada
velha, risada nova, força aos músculos e vivacidade ao rosa das bochechas. Era
uma boa rotina.
Ontem
o contexto era outro, gente nova, piada nova, risada velha, o mesmo sorriso de
quem só quer isso da vida, só quer rotinas boas, não importando se são velhas
ou novas, mas que não quer ser o espelho do passado, não quer viver citando a
vida que tinha, a piada que não faz mais rir.
A
vida tem coisas pequenas e grandiosas, mas as bem boas, as que fazem a gente
gargalhar de verdade são as coisas medianas, o mais ou menos do dia a dia, porque
essas você sabe que não são inho nem ão, essas são as que cabem na rotina sem
romper ou deformar. As coisas medianas são as que ficam.
Por Jenifer Lima
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