quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Fim carnavalesco

Eu só me pergunto em que loja comprou essa máscara, essa fantasia barata de frieza, esses saltos tão altos como seu novo ego.
Sua atual coreografia combina muito bem com o samba enredo do seu riso.
E na avenida da minha vida, o chão já está gasto de você, que vem, olha, ri de escárnio e desfila se sentindo a rainha dessa bateria.
A bateria que eu não toco.
A bateria que eu já toquei por você.
Meu coração era um repique perfeito e encaixava no seu compasso, mas você veio, sorriu, cantou.
E quando a nota seria inevitavelmente dez, você mudou de performance, destruiu meu romance alegórico e festejou com a outra escola campeã.
Só me restou a quarta-feira de cinzas, cinza como este amor.


Por Jenifer Lima


- Bom carnavaaaaal, galera! Tudo bem, o texto não é dos mais felizes, mas eu sou Jenifer Lima, e embora esteja super alto-astral, o texto foi mais uma vez triste! Mas aproveitem o feriado, e por favor, não engravidem/voltem grávidas de ninguém -

Matando aos poucos

Tudo bem, eu me rendo
Eu disse, está tudo bem
Eu sei, nunca tentei ir contra
Eu nunca nem considerei isso
Mas você sabe que a culpa é sua!
Você que está me ensinando a ser assim
Coisa mais ridícula
Mole, flexível demais
Você acha que é fácil?
Nunca foi, só com você
E agora ele está lá, gritando e eu não escuto
Você conseguiu esconder o som, mas ainda o vejo
Desesperado, se debatendo, esgoelando...
Eu convivi, estive com ele por anos
E você pensa que pode chegar assim
Do nada, querendo sumir com ele
Está tudo bem, eu me rendo
Como eu disse, está tudo bem
Agora, se você me permitir
Entre toda essa imposição
Tenho um só pedido, claro, se você permitir:
Continue me ajudando a ignorá-lo
Sem jamais o querer de volta
Até que, exausto, o meu orgulho morra.


Por Carolina Prado

- Comecei fazendo algo que clareie mais a minha intenção, mas resolvi deixar o texto mais assassino. É difícil não ter orgulho, mas quando se começa um relacionamento, ele vai sendo silenciado, ignorado, até não existir mais. É uma necessidade, não só uma escolha, mas também é um processo, geralmente inesperado -

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Olhos verdes

- Oi, vô
- Oi, minha fia
- Benção, vô
- Deus te abençõe
Era sempre a mesma coisa, e era a mesmice mais linda do mundo.
Agora é sempre a mesma dor, e é a mesmice mais pesada do mundo.
- Vô, seus olhos verdes são tão lindos
- São verdes não, minha fia, são maduros mesmo
E eram mesmo. Maduros e lindos.
Os olhos verdes que eu queria pra mim foram escurecendo como se pressentissem o fim, mas quando ele chegou se reacenderam. Eu não os vi assim, como as duas esmeraldas lindas que deviam ser quando jovem. Eu estava a 2.600 Km de distância do caixão que começava a ser coberto pela terra impassível. Mas eu sabia que meu avô se mostraria forte até mesmo na hora de ir.
Um ano sem meus olhos verdes e o luto não envelheceu em nada.
Sinto saudades, vô.



Por Jenifer Lima




- até esse momento eu me orgulhava em ser sempre muito impessoal nos meus textos. Nunca ter postado algo escrito diretamente sobre mim faz desse momento algo a mais pra mim. Dedico esse texto ao meu avô, e que a morte não se sinta vitoriosa, pois a lembrança daqueles olhos verdes ainda me faz sorrir -

Tem ninguém à porta...

- Faz assim, mãe, diz pra ele que eu não me importo com ele. Não! Melhor dizer que eu nunca pensei nele, nunca gostei do sorriso contido, nem da mania incoveniente de proteção. Ou diz que eu era muito pra ele, que ele não me preenchia, que era muito normalzinho. Usa diminutivos, mãe, pra ele se sentir inferior! Muito normalzinho, chatinho, grudentinho... Fala que ele não me satisfazia quando dizia que me amava. Mãe, por favor, diz que eu não aceito quaisquer desculpas, diz também pra ele parar de te chamar de sogra, deixar de fantasiar com uma casa cheia de crianças porque eu nunca considerei essa opção. Deixa bem explicado que os olhos e as olheiras dele não querem dizer nada e repete várias vezes que eu estou bem! Numa felicidade totalmente incomparável com quando ele me chamava de linda, ou bagunçava os cabelos da própria nuca quando queria se desculpar. Diz tudo isso, mãe, por favor! Mente pra mim! Faz ele acreditar que não significou nada! Talvez ele se sinta mais culpado se for assim...
- Filha, não foi ele que tocou a campainha...
- Ah...


Por Jenifer Lima


- texto feito num rompante ontem à noite... Quem nunca fingiu que tava muito bem quando estava verdadeiramente ao cacos que atire a primeira pedra -

Completo

Totalmente lindo, mesmo tendo um nariz meio desproporcional;
É antipático, mas quando sorri, o faz com maestria;
É insuportavelmente sincero;
Dono dos olhos mais hipnotizantes, da barba mais mal feita, da gargalhada mais gostosa, do humor mais instável.
Ele é imperfeitamente completo.
Completamente inexistente.

- tá, eu sei que o final tá esbanjando melancolia, mas, posteriormente, vou postar uma versão mais alegre desse mesmo texto -

Colecionando dramas

Tem sido difícil me desfazer da minha coleção. A cada vez que eu abro o pote e tiro de lá o que antes era uma preciosidade, eu sinto farpas cortando meus dedos.
É óbvio que não há pote, muito menos farpas.
Essa sou só eu dramatizando minha vida e lembrando-me de que você adorava quando eu fingia que qualquer motivo podia virar drama e lágrimas na hora de escrever; e de que você adorava qando eu escrevia assim, porque eu ficava com o olhar perdido e ficava linda, você dizia.
E eu duvidava.
E eu duvido.
Duvido que você tenha realmente deixado de me amar tão repentinamente.
Duvido que não pense mais no meu olhar perdido, quase sempre encontrando uma maneira de não fazer um texto sobre você para não me sentir boba.
Quer saber, esse texto é sobre você e eu não me sinto nada boba, pois a bobeira sumiu quando você deixou de me amar e disse que eu teria que me contentar com esse pote de lembranças.
Você só esqueceu de me avisar sobre as farpas.


Por Jenifer Lima


- tá, eu não ia postar esse texto, mas me pareceu bem sofrido, então, coitado, merece alguma atenção rs -