segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Te espero


São tantas essas portas que abrem, mas por nenhuma delas entra você. Eu sentei no degrau desconfortável te esperando passar, mas não aconteceu. Eu cheguei muito tarde, mais um de meus atrasos sempre que me programo demais. Me programei pra te dizer tanta coisa, acabei não dizendo nunca. Como sobre a vontade de morar nas curvas ao redor dos seus olhos quando você sorri. Te espero passar com o andar de quem carrega o mundo. O meu mundo que eu te dei com tanta má vontade. Te espero girar a maçaneta que eu nunca fiz questão de tocar por pura covardia. Te espero porque já não posso esperar por mais ninguém e não me resta a paciência de esperar por mim. Há o barulho dos carros, e do coração magro batendo, o zumbido dos pensamentos e o silêncio do mundo onde você não mora mais em mim, onde eu estou sentada ante a porta que não abri pra você. Mas que eu quis abrir. Pra te ver entrar por ela sem fazer cerimônia, tirar os sapatos e me puxar para mais perto. Pra te ver explorando os cômodos sem pressa, me deixando caber na alegria que te cerca, me forçando a anastomose do teu sorriso no meu. Quis abrir, mas tive medo de que lá dentro fosse tão confortável que eu nunca mais quisesse sair, e nunca mais me lembrasse do quão desconfortável é este degrau, no qual eu sento e te espero. E você não vem. Porque cansou de vir e encontrar apenas um coração magro. Eu não te disse, mas este coração magro é a chave da porta e é ele quem te espera, martelando os segundos, os minutos, a eternidade da tua ida.

Por Jenifer Lima

domingo, 17 de novembro de 2013

Feliz


Mente anuviada por incertezas
Inseguranças que a própria vida dá
A vontade é ignorar as tristezas
E deixar o silêncio falar

Mas já que ele não fala
Ou talvez eu não o queira ouvir
Vou deixar esse sorriso de lado
E de verdade minha dor sentir

Fatiguei-me de tanto esconder
O que eu tinha a oferecer
Eram lágrimas de pesar e medo
Pelos erros que me fiz cometer

O bom é que o tempo passa
Mesmo estando no mesmo lugar
E o melhor é que as coisas mudam
Dependendo de como eu olhar 

Entendi que nem tudo são flores
E que o mundo não é cor de rosa
Mas sei que ele pode ser doce
Se ao menos eu for corajosa

Corajosa não pra encarar
Não pra ter peito e enfrentar
Corajosa, sim, para amar
E saber em quem confiar

Bem sei que não tenho forças
E que a dor não é evitável
Mas conheço qual é a fonte
Da alegria inabalável

Por Carolina Prado

Sobre mim


Não consegui escrever. Esperei por qualquer lapso de criatividade que o sofrimento me proporcionasse. Não veio. Eu estava pequena demais para escrever. Essa é a beleza da dor. Ela nos diminui até cabermos numa palavra, num canto, numa lágrima fina que escorra sem vontade. Lá estava eu, miúda, esperando que nevasse ou que acontecesse qualquer coisa que me surpreendesse. Não aconteceu. Pela primeira vez, eu ansiava por algo que quebrasse o que eu havia planejado, mas a única coisa que quebrou fui eu. Em estilhaços tão finos que cortariam quem me envolvesse em seus braços. E mesmo assim, eu queria tanto.
Que engraçado, está nevando.

Por Jenifer Lima

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Sorriso nos olhos


Quis guardar aqueles olhos sorridentes pra mim.
Colocar na estante do quarto, olhar para eles a cada dia nublado, a cada noite sem lua. E olhar até cansar. Porque eu sei que cansaria, mas também sei que aqueles olhos reconheceriam meu cansaço, e sorririam ainda mais da minha volatilidade.
Os quis para substituir a visão dos meus olhos cansados, quase sempre marejados, para que a imagem saísse da escala de cinza, para que o colorido cegasse minha razão.
Pedi tanto aqueles olhos.
Pedi com tanta vontade.
Quando finalmente os tive, eles deixaram de sorrir.


Por Jenifer Lima

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O eterno só teu



Ei, você! Só me diz por que é que voc
ê não me amou do jeito certo? Eu tenho todos os requisitos pra isso. É sério. Não ri. Seu amor por outra desfila à minha frente sempre que me vê, e uma parte de mim sente inveja. A outra parte desdenha. Desdenha porque já fui eu a ouvinte dos seus arroubos de paixão, das suas meias-verdades encantadoras, das suas músicas mal cantadas, das suas juras de amor eterno.
Quem sabe o seu amor fosse eterno mesmo, mas você não sabia onde guardar, não sabia o que fazer com algo tão interminável. Você, sempre tão inconstante, sempre disperso e vago, você não soube lidar com amor eterno, não soube dá-lo a mim nem sequer arrumar um canto colorido para ele. O amor eterno virou estático, congelado, enfadonho. Não dava mais pra renovar, o prazo venceu, não aceitei mais. Permiti que a culpa fosse minha mesmo, você nem questionou, pegou seu saco de amor quebradiço, deu a quem quisesse. Não avisou que o eterno era sua fachada, seu poema gasto, sua música de rimas fúteis.
Seu amor foi passando de mão em mão, minhas digitais foram desaparecendo. Dessa vez não sofri, nunca quis amor manchado. Por mim tá tudo bem, pode ficar com seu eterno indurável.

Por Jenifer Lima

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Conflito


Quero soltar todas as linhas que me enlaçam ao resto do mundo, quero ser livre e pular algumas muitas vezes, dançar sem ritmo, sem ginga nenhuma, quero banho de chuva forte de outono, quero deitar no chão sujo e sorrir pra ninguém, gargalhar pra mim mesma. Quero deixar pra trás toda essa bagagem triste que os dias me deram, toda a ferrugem que acumulei por culpa das lágrimas empoçadas num coração entrevado.
Mas quem é que vai entender que uma das coisas mais difíceis é querer?

Por Jenifer Lima

sábado, 24 de agosto de 2013

Escolha


Foi a garotinha quem tomou a iniciativa: após nossa troca de sorrisos, ela veio até mim e disse com convicção "quando eu crescer quero ser igualzinha a você". Pedi que, por favor, não. Não, não, não. Pedi pra ela escolher outra pessoa, pra ela rir mais, conversar mais, se encaixar mais, pra ela ser mais. Pedi pra brincar, correr, cair e superar; não levar nada muito a sério, viver de pôr-do-sol, de pote no final do arco-íris, de paredes desenhadas. Viver de graça. Com graça. Pedi, supliquei, até chorei, mas sem ela ver nem ouvir nada. No fim das contas, só falei que também queria ser igual a ela quando crescesse. O problema é que já não dá mais tempo de crescer. Nem de escolher.


Por Jenifer Lima

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Invisível


Ontem senti saudade. Não aguentei. Peguei a caixa. Aquela, escondida, empoeirada, aquela que tem você, misturado a todos os motivos de insônia, de lágrimas, de pensamentos evitados. Não te evitei dessa vez. E sofri. Mais uma vez. Como da última vez. E me culpei. Porque é isso o que eu faço quando a saudade aperta e eu me lembro de você falando as frases mais clichês, as metáforas tão rasas, aquilo que usa com todo mundo, e eu sempre insistindo em ser profunda demais, criteriosa demais, e fraca. Porque você nem sabe que eu estou aqui, abrindo a sua caixinha, porque você não mudou as frases nem as metáforas, mas você mudou de mim. Eu não mudei de você, não mudei de mim, continuei a mesma profunda, criteriosa. Só me tornei fraca. Do tipo que não aguenta de saudade, do tipo que te esconde em caixas, do tipo que finge ser forte, do tipo que ninguém vê.

Por Jenifer Lima

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Idades desconcertantes


No vagão, terno azul marinho
Sapato social marrom
Cachecol solto, pendurado, preto
Pele alva, fragilizada, óculos
Touca listrada, um livro
Uma caixinha de câmera fotográfrica
Um bloco de anotações
Anotações coloridas, caprichadas
Um colar com crucifixo
Seguro de si, já idoso

Não tive como não olhar
Ficou sem graça ao perceber
Desconfiado tentou encarar
Por pouco tempo se pôde deter

No vagão da frente
Uniforme corinthiano
Pequeno, garotinho, inocente
Olhei, ele olhou
Esbocei um sorriso
Mostrou-me seus dentes
Sorri largamente
Ele também, sem parar
Fiquei sem graça, desviei o olhar

O que é que nós humanos
Achamos que revelamos?
Quanto mais o tempo passa
Mais segredos nós guardamos

Por Carolina Prado

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Vida efêmera

Efemeróptero: inseto que nasce e morre no mesmo dia.

Eles são feios. Quero dizer, esses insetos. Mas há uma beleza nas coisas da vidas que são passageiras. Elas são desinteressadas e desregradas.
Ninguém dorme como acordou. Todo mundo nasce e morre no mesmo dia pra se remodelar e assumir diferentes posições no próximo dia. São as coisas imutáveis que acabam rápido, nascem para morrer de desgaste, de fadiga. 
Ser efêmera é permirtir-se ser, ir, vir, deixar nascer e morrer. 
É ser constantemente breve, até permanecer. Mesmo sem querer.

Por Jenifer Lima

segunda-feira, 25 de março de 2013

Aquela repaginada


- Olhe aqui, não venha me chamar de mimada só porque eu chorei, bati o pé e esperneei! Eu queria mesmo, viu? Não era capricho, era importante pra mim!
Mas quem nunca se enganou? Quem nunca procurou o que queria no lugar errado, da forma errada, enfim, quem nunca errou? É assim que a vida continua, numa sucessão de tentativas, de riscos. Não vou mentir, tenho medo dos próximos, são tão desconhecidos que sinto dar tiros no escuro e esperar que acerte o alvo. Perigo! Cadê os sinais, a margem de segurança? A vontade é não me mover, nem mais um passo, e deixar meu coração descansar. Ele é jovem, mas só porque aguenta não quer dizer que precisa ficar levando trancos.
Discursos sobre maturidade, resiliência, auto-conhecimento, aprendizado e isso e aquilo são lindos, só que não é todo o mundo que suporta com sanidade o álcool numa ferida profunda, inflamada, aberta e larga. Eu não. Entenda, as pessoas chegam e fazem parte da história, a maioria em pequenas porções, outras em significativas fases, algumas ficam até o final, mas o que elas fazem conosco depende das nossas próprias escolhas. Por isso essa ferida é minha e ninguém tem culpa.
Tantas vezes escrevi textos impessoais e veja, estou deixando você realmente me ler. Deveria estar transmitindo sorrisos e alegrias que têm acontecido por aqui, mas será que você sorriria comigo? É mais fácil se identificar com a dor, com aquilo que faz sofrer, parece que algumas palavras gritam aos ouvidos dizendo: ei, é exatamente isso o que você passou! Ei, passou.
Eu sei onde estão as placas de aviso, eu sei onde posso fechar os olhos - não enxergo nenhum palmo a frente mesmo - e descansar, eu sei como posso fazer tudo isso e ainda assim não estar parada (só por isso continuo). Lutar com tudo o que tem, procurar justiça, não se calar em nenhum momento, isso é ser forte? Eu acredito que a maior força está na sabedoria, e que nem sempre é hora de agir.
Talvez você não tenha entendido tudo, talvez tenha entendido até demais, mas terá entendido bem se perceber que "é natural, tão normal querer estar melhor do que já está e devagar alcançar a felicidade".

Por Carolina Prado