São tantas essas portas que abrem, mas por
nenhuma delas entra você. Eu sentei no degrau desconfortável te esperando
passar, mas não aconteceu. Eu cheguei muito tarde, mais um de meus atrasos sempre
que me programo demais. Me programei pra te dizer tanta coisa, acabei não
dizendo nunca. Como sobre a vontade de morar nas curvas ao redor dos seus olhos
quando você sorri. Te espero passar com o andar de quem carrega o mundo. O meu
mundo que eu te dei com tanta má vontade. Te espero girar a maçaneta que eu
nunca fiz questão de tocar por pura covardia. Te espero porque já não posso
esperar por mais ninguém e não me resta a paciência de esperar por mim. Há o
barulho dos carros, e do coração magro batendo, o zumbido dos pensamentos e o
silêncio do mundo onde você não mora mais em mim, onde eu estou sentada ante a
porta que não abri pra você. Mas que eu quis abrir. Pra te ver entrar por ela
sem fazer cerimônia, tirar os sapatos e me puxar para mais perto. Pra te ver
explorando os cômodos sem pressa, me deixando caber na alegria que te cerca, me
forçando a anastomose do teu sorriso no meu. Quis abrir, mas tive medo de que
lá dentro fosse tão confortável que eu nunca mais quisesse sair, e nunca mais
me lembrasse do quão desconfortável é este degrau, no qual eu sento e te
espero. E você não vem. Porque cansou de vir e encontrar apenas um coração
magro. Eu não te disse, mas este coração magro é a chave da porta e é ele
quem te espera, martelando os segundos, os minutos, a eternidade da tua ida.
Por Jenifer Lima
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