Por Jenifer Lima
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Reabilitação
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
Coração de bruxa
Tenho um pequeno medo da vida sempre que me dou conta de que você não está mais aqui. Me dou conta disso todos os dias e, portanto, tenho um frequente medo da vida. Quando eu era criança, odiava ficar sozinha em casa, justamente por ficar acompanhada do medo da vida. Hoje eu acho tudo isso bastante clichê. É que me acostumei à solidão e aos clichês. Uma vez, falei pra minha coleguinha da escola que contos de fada eram clichês e ela me olhou como se eu tivesse duas cabeças. O que, na verdade, eu tenho. Tenho a minha cabeça e a cabeça da menina que eu queria ser e não sou.
Há três anos atrás, me disseram que eu não tinha coração. Por via das dúvidas, comprei cinco. Um morreu asfixiado, o outro foi atropelado, o terceiro foi esfaqueado e teve um que morreu de saudade dos outros três. O último eu não quero mais não. Pode levar embora. Ele está ali debaixo da cama com aquele medo clichê da vida, sabe? Sério, pode levar. A minha coleguinha disse que não sabia o que era clichê, mas que eu podia ficar com o papel de princesa na nossa brincadeira. Pra ser sincera, eu quero mesmo é o papel da bruxa, principalmente aquela que tranca amores na torre mais alta do castelo! Corações de bruxas com duas cabeças não morrem, certo?
Por Jenifer Lima
domingo, 14 de setembro de 2014
Batom
Decidi que hoje vou dormir de
batom. Ele estaria intacto, não fosse a falha bem ao centro, onde coloquei o
canudo do refrigerante. Provavelmente irei manchar os lençóis e acordar nada
apresentável, mas hoje eu vou dormir de batom. Veja bem, eram aproximadamente
15 minutos para deixar os lábios do jeito que me agrada. Hoje demorei quase
cinco e embora o resultado tenha sido parecido, ninguém percebeu. Ninguém nunca
percebe e é provável que da próxima vez eu demore apenas 3 minutos.
Lápis de
boca, esfumaçado, batom número 1, batom número 2, espalhada básica e limpar os
cantos. Pronta. Você me olhava e acendia as sobrancelhas me deixando
envergonhada. Ao perceber, você exagerava na reação, adorando me ver revirar os
olhos. Como de costume, você me abraçava e vinha me beijar e eu... bem,
automaticamente eu virava o rosto e era a sua vez de revirar os olhos. Eu não
havia demorado tanto para que você borrasse meu batom em um segundo. Eu te dava
um selinho de leve e você lamentava, mas enquanto conversávamos, seu olhar não
se decidia entre meus olhos ou minha boca. Ao final da noite, meu batom tinha
misteriosamente sumido.
Hoje eu coloquei a mesma combinação que usei num dos
nossos encontros, quando eu ainda chorava pela dor de outro alguém e nem
imaginava que aquilo era um encontro. Boba. Devia ter te deixado borrar o batom
desde aquele dia. Como eu disse, hoje vou dormir de batom. Ele estaria intacto,
não fosse a falha bem ao centro, onde coloquei o canudo do refrigerante. Hoje
ninguém reparou na cor que eu estava usando, nem em como eu faço de tudo para
preservá-lo até o fim da noite. Hoje ninguém demorou o olhar nos meus lábios,
nem se perdeu por lá enquanto eu falava. Hoje ninguém irá insistir para
borrá-lo, nem me fazer esquecer que o estou usando quando respirar no meu pescoço.
Hoje não vai ter você.
Então me levanto e volto para casa. O sorriso estaria intacto, não fosse a falha bem ao centro do peito, onde te coloquei.
Por Jenifer Lima
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Agendado
Anoto meus defeitos
numa agenda, evitando esquecer. Respiro lentamente e permaneço absorta
por alguns minutos pelo menos umas quatro vezes por dia. Não consigo evitar e
este é um defeito de fábrica. Prendo a respiração por instantes, enquanto ouço
vozes internas que são nada mais nada menos do que eu mesma pelo menos umas dez
vezes por dia. Não consigo evitar e este é um defeito de fábrica. Respiro
rapidamente e não sinto nada além da ininterrupta sensação de fim pelo menos
umas duas vezes por dia. Não consigo evitar e este, meu querido, é mais um
defeito de fábrica.
Não dou a mínima para
a minha respiração e visualizo palavras melancólicas por toda a parte, entretanto,
meu querido, este não é um defeito de fábrica. Entretanto, você não volta.
Entre tantos, você é o operário que não mais me conserta. Entretanto, você
escolheu ser só mais um entre tantos.
Olho ao redor e há uma
infinidade de palavras acumuladas nos cabides das minhas incertezas, empoeiradas,
desbotadas. Começo a considerar uma bela faxina, todavia, meu querido, você
levou todo o material de limpeza. Todavia, você não volta. Toda a vida separei
o mesmo dia da minha agenda para preencher com você. Todavia, você escolheu ir
embora de mim por toda a vida. Anotei amor na sua agenda e mesmo assim você esqueceu.
Por Jenifer Lima
terça-feira, 29 de julho de 2014
Conto sem fadas
Houve um tempo em que o sol fez birra, se
recusou a nascer. E foram dias a fio na escuridão. Além da escuridão, havia o
frio e esses dois elementos formavam a tristeza. A pobre garota já não sabia
quando era dia, nem quando era noite e sofria em silêncio enquanto via as
pessoas acenderem suas lâmpadas. Sua lâmpada não acendia, havia queimado há
anos e, por ter se afeiçoado ao sol, não comprara outra. Por causa disso,
entristecia ainda mais.
Entregaram-lhe uma lâmpada emprestada, mas a
tristeza apenas se multiplicou. Não era a mesma coisa. Os dias se passavam, as
flores murchavam e a grama dos parques secou. As pessoas já não saíam mais de
suas casas, fosse por causa da escuridão, fosse por causa do frio. E a garota?
Bem, a garota entristecia.
E entristeceu tanto que achou que não
aguentaria. Pensou ser seu fim, deitou no frio ensandecido, abraçou a escuridão
e esperou... esperou... até que dormiu. No dia seguinte, amanheceu. Amanhecer?
Ora, não foi o sol que resolveu sair, foi a pequena garota que refez seus dias,
apagou sua lâmpada emprestada e acostumou os olhos à escuridão. Não precisava
mais do sol, a garota aprendeu a ser dia.
Não houve felizes para sempre, nem príncipe
encantado, a protagonista estava longe de ser princesa, mas desse conto, a
menina gostou.
Por Jenifer Lima
terça-feira, 15 de julho de 2014
Aquietai
É tarde.
Meu quarto está bagunçado, reflexo de meu estado mental. Durmo na sala para não encara-los. Preciso remarcar reposição de duas aulas que a preguiça de pensar me fez marcar justamente nos dias e horários mais inconvenientes. Acabo de tomar um remédio que provavelmente me fará sentir sono em alguns minutos, o que é bom considerando que encontro a cada noite um convite para fazer qualquer outra coisa, menos dormir. Acabo de responder a uma pessoa a quem dou minha amizade dizendo que está tudo bem. Não que eu não goste de receber amizade em troca, mas deste tipo vem cheia de conselhos dos quais estou pouco a fim.
É tarde.
Eu deveria estar dormindo, como disse, e parece que eu não me cuido muito bem, não ligo muito pra mim, não sou suficientemente atenta. Não pense assim. Eu só estou, não sou. Aliás, já faz um tempo que só estou. Acho que vou bem assim, por enquanto. Talvez em algum momento eu exploda, de alguma forma, chorando compulsivamente ou sentindo alguma dor física. Rotina angustiante, que, descobri, todos temos. Eu não tinha. Levava a vida da forma mais leve possível, colocava pra fora quem eu era, supunha saber quem eu era, o que queria. Agora sou só mais uma, sofrendo como todo o mundo, sobrevivendo como cada pessoa aqui, só.
Achei que ser artista seria a vávula de escape, me faria surpreendentemente diferente. Talvez faça sentido algum dia, mas ainda estou classificada como pessoa comum, por indivídua que seja. Incomodada. Não faço mais diferença na vida das pessoas, não como costumava fazer. Eu estava lá nos momentos em que mais precisavam, elas viam isso, eu era amiga de verdade, exageradamente honesta, buscava em tudo integridade, e hoje parece tão distante e inatingível. Cansativo.
Insisto em dizer que estou bem a quem tenta se importar, decifrar. A quem sei que é capaz de entender eu falo a verdade, às vezes. Penso que se toda a vez que eu me angustiasse dissesse pra alguém, afastaria-os de mim, assim como já me afastei de quem tinha essa sinceridade comigo. Bem injusta, mas o que posso fazer? É um tipo de proteção: não esperar nada de ninguém, não dar nada que possa ser recompensado.
Sei de muita coisa, por poucas que sejam. Comparadas ao que faço, o que sei forma um monte bem grande. Mas espero ouvir. Aprender. Desisti de ser perfeita, por mais que doa. Sei por exemplo que é um caminho arriscado, mas o outro também era, o chamado perfeccionismo. Não há segurança por aqui, todos sabem disso, mas preferem se render ao pensamento mediano que guia a nós, cegos.
Tenho necessidade de ser elogiada, mas em mim não há nada realmente digno de elogio. É preciso mais tempo, mais esforço, sempre mais, sempre falta. O sono é grande, talvez eu acorde com preguiça e força para encarar tudo de novo. Um dia após o outro, e nada é como isso. Melhor ir.
É tarde.
Meu quarto está bagunçado, reflexo de meu estado mental. Durmo na sala para não encara-los. Preciso remarcar reposição de duas aulas que a preguiça de pensar me fez marcar justamente nos dias e horários mais inconvenientes. Acabo de tomar um remédio que provavelmente me fará sentir sono em alguns minutos, o que é bom considerando que encontro a cada noite um convite para fazer qualquer outra coisa, menos dormir. Acabo de responder a uma pessoa a quem dou minha amizade dizendo que está tudo bem. Não que eu não goste de receber amizade em troca, mas deste tipo vem cheia de conselhos dos quais estou pouco a fim.
É tarde.
Eu deveria estar dormindo, como disse, e parece que eu não me cuido muito bem, não ligo muito pra mim, não sou suficientemente atenta. Não pense assim. Eu só estou, não sou. Aliás, já faz um tempo que só estou. Acho que vou bem assim, por enquanto. Talvez em algum momento eu exploda, de alguma forma, chorando compulsivamente ou sentindo alguma dor física. Rotina angustiante, que, descobri, todos temos. Eu não tinha. Levava a vida da forma mais leve possível, colocava pra fora quem eu era, supunha saber quem eu era, o que queria. Agora sou só mais uma, sofrendo como todo o mundo, sobrevivendo como cada pessoa aqui, só.
Achei que ser artista seria a vávula de escape, me faria surpreendentemente diferente. Talvez faça sentido algum dia, mas ainda estou classificada como pessoa comum, por indivídua que seja. Incomodada. Não faço mais diferença na vida das pessoas, não como costumava fazer. Eu estava lá nos momentos em que mais precisavam, elas viam isso, eu era amiga de verdade, exageradamente honesta, buscava em tudo integridade, e hoje parece tão distante e inatingível. Cansativo.
Insisto em dizer que estou bem a quem tenta se importar, decifrar. A quem sei que é capaz de entender eu falo a verdade, às vezes. Penso que se toda a vez que eu me angustiasse dissesse pra alguém, afastaria-os de mim, assim como já me afastei de quem tinha essa sinceridade comigo. Bem injusta, mas o que posso fazer? É um tipo de proteção: não esperar nada de ninguém, não dar nada que possa ser recompensado.
Sei de muita coisa, por poucas que sejam. Comparadas ao que faço, o que sei forma um monte bem grande. Mas espero ouvir. Aprender. Desisti de ser perfeita, por mais que doa. Sei por exemplo que é um caminho arriscado, mas o outro também era, o chamado perfeccionismo. Não há segurança por aqui, todos sabem disso, mas preferem se render ao pensamento mediano que guia a nós, cegos.
Tenho necessidade de ser elogiada, mas em mim não há nada realmente digno de elogio. É preciso mais tempo, mais esforço, sempre mais, sempre falta. O sono é grande, talvez eu acorde com preguiça e força para encarar tudo de novo. Um dia após o outro, e nada é como isso. Melhor ir.
É tarde.
Carolina Prado
terça-feira, 1 de julho de 2014
Descrição
Subitamente há um
frio que se espalha do centro do seu corpo para a periferia. Parece que seu
sangue passou por um repentino resfriamento e a cada segundo que passa está se
petrificando dentro de você, enquanto seu coração faz uma força além do normal para
conseguir continuar bombeando por todos os muitos vasos que formam seu corpo. É
então que aparece a sensação de que seu corpo é formado de muitas coisas, é
muito grande e não te cabe ou talvez você esteja apenas diminuindo cada vez
mais. A ideia de que daqui a alguns segundos você irá simplesmente desaparecer
de dentro de si, faz com que o tremor comece. Inicialmente são os dedos das mãos
que saem de sincronia e começam a tamborilar o ar, você tenta, mas não consegue
parar. Daí pra frente, como você sabe, todo o seu corpo irá tremer. Seus ombros
sacolejam de uma maneira estúpida. Sua alma sacode. Até mesmo seus pensamentos
estão trêmulos e gelados. Você sente que vai chorar e fecha os olhos em sinal
de derrota. O choro é denso e possui mãos de ferro que agarram toda a extensão
do seu peito e garganta, até que sai em lágrimas rechonchudas. Seu choro nunca
é fino, assim como a tristeza nunca é afável. Com os olhos abertos, você vê o
mundo se deformar atrás das lágrimas e se sente mais confortável, o mundo deformado
se assemelha ao seu coração. Você tenta inspirar. Já não consegue. É estranho
como há um segundo atrás a respiração fluía, mas agora seu tórax queima ao
inspirar e parece que algo amassou seus pulmões de tal forma, que não mais
expandem. Você expira. Expirar é mais fácil e você tenta prolongar o ato, mas
logo precisa inspirar novamente. E mais dor. E mais queimação. Suas narinas
parecem dois buracos extremamente inúteis e as lágrimas aumentam em quantidade
e espessura. Você se sente humilhada. Estar vivo é estar respirando. Sua falta
de ar só confirma de que você não é mais um ser vivo, apenas sobrevive com um
penhasco de dor dentro de si. Você tenta inspirar pela boca. O resultado é
quase o mesmo, exceto que agora você solta um som agonizante a cada vez que
tenta reter o ar. Seu cérebro lembra a cada ínfima parte do seu organismo de
que se essa falta de ar durar mais alguns minutos, não haverá oxigênio para
nada. Isso deveria fazer com que tudo se acalmasse e seu gasto de energia
diminuísse, mas o botão do desespero foi acionado e tudo em você está gritando,
exigindo pelo ar que está em tanta abundância ao seu redor. O som agonizante
vai aumentando de volume, a inspiração e a expiração tão frequentes quanto suas
tristezas. Seus dedos começam a formigar, e você sabe que, se estivesse de pé,
não conseguiria se deslocar. Ainda bem que você sabe, pois desde o frio súbito,
você deitou. E deitada, você percebe que se não estancar rapidamente esta falta
de ar, perderá o sono e, sem dormir, você vai estar ainda mais cansada para
enfrentar o mundo no dia seguinte. Eu não consigo enfrentar o mundo, você
pensa. Mas então você se lembra de que pensou o mesmo ontem e antes de ontem e
antes de antes de ontem, então é bobagem continuar pensando o mesmo. Quando vai
ver, a falta de ar acabou, o choro, o tremor e o frio também. Só a dor continua
lá, mas o importante é que você dormiu.
Por Jenifer Lima
sábado, 24 de maio de 2014
Em manutenção
Ao sorridente, ao que
faz sorrir, ao que me sentiu, ao que me partiu: me mantenha. Perto, a léguas,
inteira, esfacelada. Apenas me mantenha. Já não me animo aos rumores de boas
notícias, já não me levanto para olhar o que há de novo pela fresta, já não combino
com palavras abruptas, vontades bruscas. Não quero a surpresa de te ver chegar nem
o martírio de te ver ir, quero a continuação deste segundo no próximo, quero
dias com bordas amareladas, o encanto inesgotável de folhas que, de tão lidas e
lindas, incham os livros.
Publique no jornal de
hoje, só quero ler o de ontem. Por favor, não publique sobre mim. Não me peça
pra mudar de página, de cara, de cadeira, de planeta. Não me peça, não me
impeça. Mudei na velocidade da luz, paralisei pela força do vento e mais do que
tudo, me cansei das tempestades. Abra a janela, conserve nosso clima, nossa
estática, nossa química.
Me mantenha ao seu
dispor, me mantenha ao seu impor, me mantenha ao seu amor.
Por Jenifer Lima
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sábado, 19 de abril de 2014
Dois
Bastou um gole desse
amor pertinho e ela embriagou-se. Tinha gosto de cama quente em dia de chuva,
cheiro de vento nos cabelos.
A mente se anuviou e
passaram-se décadas de segundo, enquanto ela sentia a proximidade do amor. O
amor seu. O amor dela. Os olhos seus nos olhos dela. O que era seu se tornando
dela e o que era dela se tornando seu você sendo dela ela não respira e pede
mais uma vez seja meu.
Mais um gole
Mais um
Mais
Ela
Você
Um.
Por Jenifer Lima
segunda-feira, 7 de abril de 2014
Eu sei o nome disso
Monte Everest
Fossa das Marianas9 de Julho - Buenos Aires
A montanha mais alta
O lugar do mar mais profundo
A maior avenida do mundo
E essa mania que Ele me deu
De dar novos significados à velha verdade
Ver objetos além do que são
Fazer das palavras um tipo de arte
Deixar que as pessoas me estranhem
Estranhar as pessoas estranhas
Fugir da normalidade
Brincar como crianças
Implorar por descobrir o que explorar
Explorar o que implora por descoberta
Descobrir o que explora por implorar
Ver com carinho um passarinho que sujou sua roupa
Sujar sua roupa para ver com carinho um passarinho
Criar coincidências sem querer
Escolher um jeito diferente de viver
Tão óbvio quanto o sorriso fazer parte dos dias
E o descanso fazer parte das noites
É o amor de quem me faz ser assim
O Maior se faz pequeno para caber em mim
Por Carolina Prado
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significado,
sorriso,
verdade,
viver
sexta-feira, 21 de março de 2014
Não vou deixar você
Não despreze tudo aquilo que eu falei
Não despreze tudo aquilo que ensinei
Não vou deixar você parar
De lutar
De tentar
Porque, eu sei, faz tempo, te prometi
E aquilo que eu falo eu sempre cumpri
Por que, eu sei, você tem medo
De não conseguir
É agora que não pode desistir
Porque, eu sei, faz tempo, te prometi
Vai dar tudo certo
Fica esperto
Quando menos esperar
As coisas vão se ajeitar
De um jeito que nem dá pra imaginar
Você só não pode parar
De lutar
De tentar
Porque, eu sei, faz tempo
Eu ainda estou aqui
Por Carolina Prado
terça-feira, 18 de março de 2014
Louca
Tiro as roupas do
varal para o caso de chover; coloco comida a mais para os cachorros, vai que eu
demore a voltar; eu sei que tem uma caneta dentro da bolsa, mas é melhor
comprar outra, imagina só se a primeira começa a falhar ou fica sem tinta e por
um instante eu não tenha como escrever; te olho sem expressão e, por via das
dúvidas, te digo um não baixinho. Minhas mãos tremem, ainda estou amedrontada
com a possibilidade de não conseguir escrever quando a vontade vier, será que
meu bloquinho tem folhas suficientes?
Você me diz que o não
veio cedo demais, que nós ainda nem temos os motivos certos para ele, você é
sempre tão a favor de continuar as coisas. Penso que há uma frase se formando
dentro de mim, provavelmente cheia de antíteses e metáforas, mas tenho medo que
ela saia antes que eu consiga filtrá-la. Meus textos são peneirados pela
covardia e por isso são magros e ossudos. Você está tagarelando e eu me sinto
péssima por não te ouvir, mas estou procurando alguma comparação boa o suficiente
para descrever a forma das suas sobrancelhas perturbadas e sobre como você mexe
a cabeça de um lado para o outro, como se não achasse uma fala boa suficiente
que penetre na minha antecipação forçada. Você fica bonito preocupado.
Então me surge mais
um conto mal acabado de como a gente poderia ser infinitamente feliz num
domingo à tarde em pleno inverno. Você nem sabe, mas já estivemos em todas as
estações do ano, já colorimos todos os olhares nublados, já acarinhamos todas
as tristezas sem sentido. Vivemos demais. Em cada madrugada de verão vivemos
anos inteiros e reunimos lembranças que já completaram bodas de ouro.
Existimos em todas as
linhas de um monte de textos sem começo nem fim e eu te garanto, nós sorrimos
em cada uma delas. Te digo não, mas escrevi um sim em letras garrafais numa
folha de caderno. Te digo não, mas minhas mãos não param de tremer na ânsia de
testar a caneta que eu comprei, pra nós dois vivermos mais um pouco no meu
bloquinho rabiscado. Te digo não porque sei que se dissesse o contrário não
mais seria capaz de escrever. Então, por favor, não deixe de ser meus
rascunhos, minhas histórias imaginárias, meus sonhos mal contados. Não deixe de
ser meu, mesmo que apenas no papel.
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
O dia mais bonito
Tirei a noite de
folga para conseguir amanhecer. Amanheci outono, céu nublado e filme velho na
TV. Amanheci sorrisos, porta da frente escancarada e piada velha ao ouvido. Cansei
do melodrama de anoitecer. Percebi que amanhã foi o dia mais bonito que eu consegui
me lembrar. Amanhã tinha você e eu e cantávamos uma música que nenhum dos dois
lembrava a letra. Há sempre uma música interior com você por perto, um verso
simples, uma cadeira de balanço numa varanda a céu aberto. Ontem eu quase me
esqueci disso, mas hoje amanheci e você está em todos os lugares, em todos os
cheiros, e nos rostos desconhecidos que passam por mim. Penso que tudo bem se
eu ficar na cama até mais tarde e te pedir pra ficar comigo só até amanhã.
Por Jenifer Lima
segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
Tudo de novo
Duvido que eu seja assim!
Construí por anos uma fortaleza, não foi? Foi, na areia
Veio o tormento
E depois o furacão
E aí
Quando ainda estava a reconstruir
Faltaram os alicerces.
Eu estava cansada, fui encostar desmoronou
Foi pra desesperar
E então? Reerguer
Mais uma vez?
Eu não teria escolha se quisesse um abrigo
E o meu orgulho?
Sempre pensei saber
O que deveria fazer
Mas como num insight
Eu lembrei pra onde ir
Não tinha dúvidas
Não tinha forças
Construção vã
Agora eu precisava ir pra lá
Não como fuga da realidade
Era refúgio contra a tempestade
Assim encontrei consolo pra mentira que eu vivia
Foi no meio desse rolo
Aprendi, nem pretendia
Que grandes enredos não são feitos só de acertos
E é tão fácil errar...
Eu não precisava me mexer
Alguém foi ali me buscar
Foi ruim
Foi incrível
Fui resgatada
Sou falível
Mas a verdade é muito boa
Já não importa o quanto doa
Por Carolina Prado
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