Anoto meus defeitos
numa agenda, evitando esquecer. Respiro lentamente e permaneço absorta
por alguns minutos pelo menos umas quatro vezes por dia. Não consigo evitar e
este é um defeito de fábrica. Prendo a respiração por instantes, enquanto ouço
vozes internas que são nada mais nada menos do que eu mesma pelo menos umas dez
vezes por dia. Não consigo evitar e este é um defeito de fábrica. Respiro
rapidamente e não sinto nada além da ininterrupta sensação de fim pelo menos
umas duas vezes por dia. Não consigo evitar e este, meu querido, é mais um
defeito de fábrica.
Não dou a mínima para
a minha respiração e visualizo palavras melancólicas por toda a parte, entretanto,
meu querido, este não é um defeito de fábrica. Entretanto, você não volta.
Entre tantos, você é o operário que não mais me conserta. Entretanto, você
escolheu ser só mais um entre tantos.
Olho ao redor e há uma
infinidade de palavras acumuladas nos cabides das minhas incertezas, empoeiradas,
desbotadas. Começo a considerar uma bela faxina, todavia, meu querido, você
levou todo o material de limpeza. Todavia, você não volta. Toda a vida separei
o mesmo dia da minha agenda para preencher com você. Todavia, você escolheu ir
embora de mim por toda a vida. Anotei amor na sua agenda e mesmo assim você esqueceu.
Por Jenifer Lima
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