terça-feira, 1 de julho de 2014

Descrição


Subitamente há um frio que se espalha do centro do seu corpo para a periferia. Parece que seu sangue passou por um repentino resfriamento e a cada segundo que passa está se petrificando dentro de você, enquanto seu coração faz uma força além do normal para conseguir continuar bombeando por todos os muitos vasos que formam seu corpo. É então que aparece a sensação de que seu corpo é formado de muitas coisas, é muito grande e não te cabe ou talvez você esteja apenas diminuindo cada vez mais. A ideia de que daqui a alguns segundos você irá simplesmente desaparecer de dentro de si, faz com que o tremor comece. Inicialmente são os dedos das mãos que saem de sincronia e começam a tamborilar o ar, você tenta, mas não consegue parar. Daí pra frente, como você sabe, todo o seu corpo irá tremer. Seus ombros sacolejam de uma maneira estúpida. Sua alma sacode. Até mesmo seus pensamentos estão trêmulos e gelados. Você sente que vai chorar e fecha os olhos em sinal de derrota. O choro é denso e possui mãos de ferro que agarram toda a extensão do seu peito e garganta, até que sai em lágrimas rechonchudas. Seu choro nunca é fino, assim como a tristeza nunca é afável. Com os olhos abertos, você vê o mundo se deformar atrás das lágrimas e se sente mais confortável, o mundo deformado se assemelha ao seu coração. Você tenta inspirar. Já não consegue. É estranho como há um segundo atrás a respiração fluía, mas agora seu tórax queima ao inspirar e parece que algo amassou seus pulmões de tal forma, que não mais expandem. Você expira. Expirar é mais fácil e você tenta prolongar o ato, mas logo precisa inspirar novamente. E mais dor. E mais queimação. Suas narinas parecem dois buracos extremamente inúteis e as lágrimas aumentam em quantidade e espessura. Você se sente humilhada. Estar vivo é estar respirando. Sua falta de ar só confirma de que você não é mais um ser vivo, apenas sobrevive com um penhasco de dor dentro de si. Você tenta inspirar pela boca. O resultado é quase o mesmo, exceto que agora você solta um som agonizante a cada vez que tenta reter o ar. Seu cérebro lembra a cada ínfima parte do seu organismo de que se essa falta de ar durar mais alguns minutos, não haverá oxigênio para nada. Isso deveria fazer com que tudo se acalmasse e seu gasto de energia diminuísse, mas o botão do desespero foi acionado e tudo em você está gritando, exigindo pelo ar que está em tanta abundância ao seu redor. O som agonizante vai aumentando de volume, a inspiração e a expiração tão frequentes quanto suas tristezas. Seus dedos começam a formigar, e você sabe que, se estivesse de pé, não conseguiria se deslocar. Ainda bem que você sabe, pois desde o frio súbito, você deitou. E deitada, você percebe que se não estancar rapidamente esta falta de ar, perderá o sono e, sem dormir, você vai estar ainda mais cansada para enfrentar o mundo no dia seguinte. Eu não consigo enfrentar o mundo, você pensa. Mas então você se lembra de que pensou o mesmo ontem e antes de ontem e antes de antes de ontem, então é bobagem continuar pensando o mesmo. Quando vai ver, a falta de ar acabou, o choro, o tremor e o frio também. Só a dor continua lá, mas o importante é que você dormiu.

Por Jenifer Lima

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