Subitamente há um
frio que se espalha do centro do seu corpo para a periferia. Parece que seu
sangue passou por um repentino resfriamento e a cada segundo que passa está se
petrificando dentro de você, enquanto seu coração faz uma força além do normal para
conseguir continuar bombeando por todos os muitos vasos que formam seu corpo. É
então que aparece a sensação de que seu corpo é formado de muitas coisas, é
muito grande e não te cabe ou talvez você esteja apenas diminuindo cada vez
mais. A ideia de que daqui a alguns segundos você irá simplesmente desaparecer
de dentro de si, faz com que o tremor comece. Inicialmente são os dedos das mãos
que saem de sincronia e começam a tamborilar o ar, você tenta, mas não consegue
parar. Daí pra frente, como você sabe, todo o seu corpo irá tremer. Seus ombros
sacolejam de uma maneira estúpida. Sua alma sacode. Até mesmo seus pensamentos
estão trêmulos e gelados. Você sente que vai chorar e fecha os olhos em sinal
de derrota. O choro é denso e possui mãos de ferro que agarram toda a extensão
do seu peito e garganta, até que sai em lágrimas rechonchudas. Seu choro nunca
é fino, assim como a tristeza nunca é afável. Com os olhos abertos, você vê o
mundo se deformar atrás das lágrimas e se sente mais confortável, o mundo deformado
se assemelha ao seu coração. Você tenta inspirar. Já não consegue. É estranho
como há um segundo atrás a respiração fluía, mas agora seu tórax queima ao
inspirar e parece que algo amassou seus pulmões de tal forma, que não mais
expandem. Você expira. Expirar é mais fácil e você tenta prolongar o ato, mas
logo precisa inspirar novamente. E mais dor. E mais queimação. Suas narinas
parecem dois buracos extremamente inúteis e as lágrimas aumentam em quantidade
e espessura. Você se sente humilhada. Estar vivo é estar respirando. Sua falta
de ar só confirma de que você não é mais um ser vivo, apenas sobrevive com um
penhasco de dor dentro de si. Você tenta inspirar pela boca. O resultado é
quase o mesmo, exceto que agora você solta um som agonizante a cada vez que
tenta reter o ar. Seu cérebro lembra a cada ínfima parte do seu organismo de
que se essa falta de ar durar mais alguns minutos, não haverá oxigênio para
nada. Isso deveria fazer com que tudo se acalmasse e seu gasto de energia
diminuísse, mas o botão do desespero foi acionado e tudo em você está gritando,
exigindo pelo ar que está em tanta abundância ao seu redor. O som agonizante
vai aumentando de volume, a inspiração e a expiração tão frequentes quanto suas
tristezas. Seus dedos começam a formigar, e você sabe que, se estivesse de pé,
não conseguiria se deslocar. Ainda bem que você sabe, pois desde o frio súbito,
você deitou. E deitada, você percebe que se não estancar rapidamente esta falta
de ar, perderá o sono e, sem dormir, você vai estar ainda mais cansada para
enfrentar o mundo no dia seguinte. Eu não consigo enfrentar o mundo, você
pensa. Mas então você se lembra de que pensou o mesmo ontem e antes de ontem e
antes de antes de ontem, então é bobagem continuar pensando o mesmo. Quando vai
ver, a falta de ar acabou, o choro, o tremor e o frio também. Só a dor continua
lá, mas o importante é que você dormiu.
Por Jenifer Lima
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