Observada à distância,
recebeu o diagnóstico: sofria de males de insuficiência. Disseram ter havido
boa avaliação dos sintomas e... pimba! Só podia ser isso!
- Males de
insuficiência, moça. Receio não haver cura.
Respirou pela metade.
Olhou ao redor pela metade. Sorriu pela metade. E com medo de proferir palavras
pela metade, voltou a fechar a boca escancarada pela metade. Levantou-se e
partiu. Vale lembrar, pela metade.
Tinha os cabelos
molhados numa liberdade forjada, e caminhava de um jeito diferente. Numa dança
incomum de quem tinha seu próprio ritual de felicidade, seu próprio ritmo, seu
próprio mal.
Sim, era verdade.
Sofria de males de insuficiência. Já o sabia antes mesmo que lhe dissessem, mas
quem não o tinha? Será que quem a observava à distância, também não a observava
pela metade? Será que seu diagnóstico também não era parcial?
- Sofro de males de
insuficiência.
E sentada num café, confessou
a um conhecido que, na verdade, lhe era bastante estranho. Ele lhe olhou a
contragosto e nada disse. Foi quando ela percebeu.
Percebeu que pela metade era seu inteiro. Percebeu que insuficiência era melhor do que indiferença.
Por Jenifer Lima
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