segunda-feira, 23 de março de 2015

Bagagem



Continuou com o torpor entediante das vontades não atendidas, das noites que não são noites, dos dias que não são dias, do tempo que é apenas o passar de chinelo arrastado das horas vazias.
Continuou com a crise das existências perdidas, da vida que cozinha corações ao molho da indiferença, do tilintar das taças que brindam a hipocrisia.
Continuou. Andava sem rumo, sem dinheiro, com bagagem.
Até que não quis mais continuar.
Parou.
Olhou.
Trancafiou.
Guardou a insanidade daquilo que para, repara e acaba. Manteve em si a intensidade do que seca, resseca e encerra.
Do que falava, se calou. Do que calava, pronunciou. Do que odiava, amou. E do que amava...
Continuou.

Por Jenifer Lima

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