Entrei sorrateiramente
no cômodo bagunçado. Em outra época, tenho certeza de que eu faria questão de
abrir a janelas, varrer o chão, organizar as prateleiras ou simplesmente acomodar
minhas bagunças junto às suas. A adorável beleza da desordem compartilhada. Mas
não daquela vez. Daquela vez, a poeira me fez espirrar e o mofo no canto da
parede me enojou. Daquela vez, eu sabia exatamente o que buscar e o cheiro do
vazio me deixou confortável. Continuei andando. Para frente. E numa das
prateleiras sujas, me encontrei. Ah, meu querido, não pensei duas vezes e me
peguei de volta da sua estante. Colei cada pedaço quebrado pelo martelo da sua
covardia, lavei cada parte suja pela gosma da sua indiferença. Inclusive mudei algumas
vontades de lugar, reativei alguns sorrisos e me embrulhei no papel mais
bonito. Embrulhei sim, (des)querido, porque eu me dei pra mim de presente. Porque
eu caibo em mim e sei exatamente o que fazer comigo. Porque eu sou minha e me
dou o prazer das minhas alegrias. Na saúde e na doença, e que ninguém mais nos
separe.
Por Jenifer Lima
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