terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Bem-vinda


Entrei sorrateiramente no cômodo bagunçado. Em outra época, tenho certeza de que eu faria questão de abrir a janelas, varrer o chão, organizar as prateleiras ou simplesmente acomodar minhas bagunças junto às suas. A adorável beleza da desordem compartilhada. Mas não daquela vez. Daquela vez, a poeira me fez espirrar e o mofo no canto da parede me enojou. Daquela vez, eu sabia exatamente o que buscar e o cheiro do vazio me deixou confortável. Continuei andando. Para frente. E numa das prateleiras sujas, me encontrei. Ah, meu querido, não pensei duas vezes e me peguei de volta da sua estante. Colei cada pedaço quebrado pelo martelo da sua covardia, lavei cada parte suja pela gosma da sua indiferença. Inclusive mudei algumas vontades de lugar, reativei alguns sorrisos e me embrulhei no papel mais bonito. Embrulhei sim, (des)querido, porque eu me dei pra mim de presente. Porque eu caibo em mim e sei exatamente o que fazer comigo. Porque eu sou minha e me dou o prazer das minhas alegrias. Na saúde e na doença, e que ninguém mais nos separe.

Por Jenifer Lima

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