domingo, 19 de julho de 2015

Quebra-cabeça



“Encaixa”.
Você que disse. Numa esquina que, desavisada, serviu de pista de dança para um amor que adora valsa. Samba. Folk. Qualquer música que pudesse nos embalar, confundir nossos braços, nossas pernas, nossos batimentos.
Encaixava. E eu sorria. Eu respirava. Eu cabia.
Encaixa.
Um quebra-cabeça humano instigante pela quantidade de peças e você, que nunca deixou um desafio escapar. Você que me montou. Acomodados no chão de uma sala à meia luz que, desavisado, serviu de cama para uma paixão que adora verão. Inverno. Outono. Qualquer estação do ano, do rádio, do trem que pudesse nos aproximar, fundir nossos olhares, nossas línguas, nossas vontades.
Peça por peça.
Encaixava.
Peça.
E eu sorria.
Despeça.
Eu respirava.
Pedaço.
Eu cabia.
Despedaçada.

Por Jenifer Lima

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Quase



Trezentos e sessenta e cinco dias. Dizem que iniciar textos com contagens desse tipo os tornam dramáticos. De drama eu entendo bem.
Sabe, eu poderia contar as horas, os minutos e assim vai, mas particularmente, o nível de drama pouco importa.
Por volta desse horário, há um ano atrás, você me asfixiou. Dedos se alojaram ao redor da minha garganta e eu quase desfaleci. Mas fiquei no quase. Eu quase morri. Mas fiquei no quase. E qualquer coisa doeria menos que o quase. O quase é injusto demais.
Meu (des)querido, não vou me alongar, eu só rascunho essas linhas pra dizer que fui quebrada, mas estou quase inteira. Mas só eu sei que o quase... Ah, você sabe, o quase é casa sem teto, coberta rasgada, chuveiro queimado, é meia sem par. O quase é congelante. Eu tremo, arrepio, petrifico. Eu quase morro. Mas fico no quase. Até ano que vem.

Por Jenifer Lima