Tenho um pequeno medo da vida sempre que me dou conta de que você não está mais aqui. Me dou conta disso todos os dias e, portanto, tenho um frequente medo da vida. Quando eu era criança, odiava ficar sozinha em casa, justamente por ficar acompanhada do medo da vida. Hoje eu acho tudo isso bastante clichê. É que me acostumei à solidão e aos clichês. Uma vez, falei pra minha coleguinha da escola que contos de fada eram clichês e ela me olhou como se eu tivesse duas cabeças. O que, na verdade, eu tenho. Tenho a minha cabeça e a cabeça da menina que eu queria ser e não sou.
Há três anos atrás, me disseram que eu não tinha coração. Por via das dúvidas, comprei cinco. Um morreu asfixiado, o outro foi atropelado, o terceiro foi esfaqueado e teve um que morreu de saudade dos outros três. O último eu não quero mais não. Pode levar embora. Ele está ali debaixo da cama com aquele medo clichê da vida, sabe? Sério, pode levar. A minha coleguinha disse que não sabia o que era clichê, mas que eu podia ficar com o papel de princesa na nossa brincadeira. Pra ser sincera, eu quero mesmo é o papel da bruxa, principalmente aquela que tranca amores na torre mais alta do castelo! Corações de bruxas com duas cabeças não morrem, certo?
Por Jenifer Lima