- Olhe aqui, não venha me chamar de mimada só porque eu chorei, bati o pé e esperneei! Eu queria mesmo, viu? Não era capricho, era importante pra mim!
Mas quem nunca se enganou? Quem nunca procurou o que queria no lugar errado, da forma errada, enfim, quem nunca errou? É assim que a vida continua, numa sucessão de tentativas, de riscos. Não vou mentir, tenho medo dos próximos, são tão desconhecidos que sinto dar tiros no escuro e esperar que acerte o alvo. Perigo! Cadê os sinais, a margem de segurança? A vontade é não me mover, nem mais um passo, e deixar meu coração descansar. Ele é jovem, mas só porque aguenta não quer dizer que precisa ficar levando trancos.
Discursos sobre maturidade, resiliência, auto-conhecimento, aprendizado e isso e aquilo são lindos, só que não é todo o mundo que suporta com sanidade o álcool numa ferida profunda, inflamada, aberta e larga. Eu não. Entenda, as pessoas chegam e fazem parte da história, a maioria em pequenas porções, outras em significativas fases, algumas ficam até o final, mas o que elas fazem conosco depende das nossas próprias escolhas. Por isso essa ferida é minha e ninguém tem culpa.
Tantas vezes escrevi textos impessoais e veja, estou deixando você realmente me ler. Deveria estar transmitindo sorrisos e alegrias que têm acontecido por aqui, mas será que você sorriria comigo? É mais fácil se identificar com a dor, com aquilo que faz sofrer, parece que algumas palavras gritam aos ouvidos dizendo: ei, é exatamente isso o que você passou! Ei, passou.
Eu sei onde estão as placas de aviso, eu sei onde posso fechar os olhos - não enxergo nenhum palmo a frente mesmo - e descansar, eu sei como posso fazer tudo isso e ainda assim não estar parada (só por isso continuo). Lutar com tudo o que tem, procurar justiça, não se calar em nenhum momento, isso é ser forte? Eu acredito que a maior força está na sabedoria, e que nem sempre é hora de agir.
Talvez você não tenha entendido tudo, talvez tenha entendido até demais, mas terá entendido bem se perceber que "é natural, tão normal querer estar melhor do que já está e devagar alcançar a felicidade".
Por Carolina Prado